Local: Middelburg, Holanda
Máquina Fotográfica: Canon 100D
Lente: Canon EF 50mm f/1.8 STM
Abertura: f/1.8
Velocidade: 1/250
ISO: 100
Há lugares que me fascinam desde sempre, e um deles toma a forma de: feiras, mais especificamente feiras de coisas velhas. Sim, feiras da ladra, mercados de velharias, feiras das antiguidades, flea markets…e não sei quantas mais denominações para um mesmo fim – vender uma velha história na esperança de criar uma nova por intermédio de uma troca materializada.
Consigo passar horas a observar e fazer fotografias dos momentos que são criados em ambientes de feiras de velharias. Não confundir com feiras de coisas novas, pois é totalmente diferente. As primeiras têm uma alma que contem história e carisma, tem algo de temporal e intemporal na forma como as as trocas são feitas, na forma como os objectos alvo de troca são apresentados; tudo contém uma história de vida em si mesmo, que não se resume ao seu design, materiais ou produção. Estes já fizeram parte da vida de alguém. Enquanto que as segundas, essas têm ainda uma vida para começar.
Quando olho para objectos que cativam o meu olhar são várias as perguntas que assaltam a minha cabeça:
O que aconteceu para estarem aqui à disposição de outros?
Qual terá sido a sua história? De que ano ou mesmo século fizeram parte?
À quanto tempo são órfãos de lar e utilidade? E um sem fim de questões passam pela cabeça de quem vende e compra.
Quem adquire velharias, respeita este ciclo, ouve a história que lhe é contada pelo vendedor, adota um objecto órfão para lhe dar uma nova história, e faz da ideia que concebeu no acto da compra o mote para dar novo significado aquela coisa que outrora foi algo preciso para alguém.
Engraçado ter este olhar sob objectos numa era em que se fala de minimalismo como o novo placebo para o stress e ansiedade causada pelo excesso de tralha. Não! Não é engraçado, é em boa verdade respeito por algo que foi criado e despojado por excesso de tralha quando alguém assim o decidiu, ou porque simplesmente morreu e consigo levou as suas histórias e por conseguinte a razão da existência de algo. A sociedade de consumo imediato usa de mais de mil ferramentas com o objectivo de incluir nas nossas mentes que temos a necessidade de estar sempre actualizados, que as coisas essas são efêmeras e de uso particular consoante a ocasião. Urge a necessidade de comprar algo novo, porque alguém inventou um design novo, uma nova forma de usar algo que cumpre uma necessidade que nós próprios não sabíamos que a tínhamos até lermos a descrição do produto. Afinal o minimalismo se deve-se chamar outra coisa menos sexy: consciência social.
Não me recordo quem o disse, mas é uma afirmação que me fez e faz sentido: “Nós existimos enquanto alguém se lembrar de nós.” Em boa verdade é o que acaba por acontecer com os objectos que escolhemos para fazerem parte da nossa vida. Se não passamos ou vivemos a história deles com a alguém, sendo valiosos ou vistosos não passam de objectos. Como nós não somos apenas corpo físico, mas sim as estórias que criamos e vivemos com outros. Também o são os objectos que nos acompanham nessas aventuras.
É por isto e tudo o que isso significa que gosto de criar e recriar histórias com o que me rodeia. E tu, que objectos gostavas de fotografar?