Há dias que começam de um modo extraordinário e acabam por terminar de maneira ordinária ou banal. Já há outros que começam com uma vontade enorme de atrasar o relógio e fingir que o tempo congelou para que o dia espere só mais um bocadinho por aquela vontade…certo, estes são os que começam de modo ordinário ou sem nada de especial.
Hoje foi um dos dias que resolvi dedicar-me a fazer algo nesta minha aventura fotográfica, em vez de ter milhares de ideias que depois ficam atrás da cortina do tempo – é tempo de mais acção! Talvez um pouco inspirada por algo que o David Bowie disse num documentário, cuja qualidade é duvidosa devo dizer. Ele dizia que escreve música todos os dias, mesmo quando não lhe apetece, mesmo quando escreve e a seguir deita para o lixo as folhas amarrotadas. Interessante este conceito experimental, mesmo vindo de alguém que parece que tudo saía bem à primeira.
Fiquei a pensar naquele conceito e resolvi-me desafiar. Toca a pegar na Sony Cybershot compacta rosa choque que tem estado abandonada no armário por ter sido apelidada de “desactualizada”. Calúnias!, ela que é tão prática para andar em qualquer bolso e não tem notificações nem recebe chamadas como o telemóvel. Argumentos válidos para uma reintegração na vida activa pensei eu.
Lembrei-me então de fazer uma espécie de curta metragem das fotografias, umas seis pensei eu com os meus botões; com a luz do amanhecer e depois logo vejo o que daí sai. Claro está que isto foi tudo ao sabor do vento, sem preparação nem repetição de takes como fazem no cinema.
Da experiência resultaram uns quantos delete, e por fim das seis fotografias imaginadas resultaram duas.. foi mais uma curta curtíssima do que propriamente um curta metragem.
Um pouco ao acaso lembrei-me de escrever “curta” no google e pressionar enter. E foi então que descobri que curta, não é só um adjectivo para uma peça de vestuário ou um pontapé de saída para uma conversa sobre curtas metragens, mas é afinal, também, o objecto mecânico que antecedeu a calculadora digital dos dias de hoje. Ou melhor, a curta foi a versão analógica da máquina calculadora digital. Engraçado isto do google nos contar histórias.
Sabem o que é interessante e intrigante? É que a palavra “curta” sempre me deu a sensação que o tempo ou espaço é reduzido. Mas se pensarmos no objecto mecânico curta, ele pode dividir ou subtrair mas também pode adicionar e multiplar.
Gosto de pensar que uma curta é algo curto em tempo mas multiplicado em excitação e emoção. Para os mais entusiastas aqui podem ver mais detalhes e até uma imagens de algumas das versões: https://en.wikipedia.org/wiki/Curta
A magia está em saber que o que começa de um modo pode ser tão volátil quanto a nossa vontade de mudar seu rumo – a liberdade de mudar com pequenas acções e pensamentos depende somente, ou pelo menos em grande parte, do sujeito da acção. E quando assim é, o ordinário pode tornar-se extraordinário num piscar de olhos não acham?
Até breve,