Sempre tive um fascínio por livros e bibliotecas. Não que seja uma leitora assídua ou mesmo que leia rápido, porque não sou nenhuma das duas. (A não ser que esteja muito interessada numa temática, aí devoro os livros como se o mundo tivesse para acabar.) Mas por algum motivo, quando estou numa biblioteca ou rodeada por livros sinto-me “em casa”. Agora que penso nisso, talvez por isso o meu autor de ficção favorito seja, ele também, o autor de um dos meus livros favoritos: A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafon. Cuja narrativa anda à volta de uma biblioteca de livros esquecidos. E mais não conto…Coincidências ou lembranças de vidas passadas?! Não sei! Só o tempo o dirá..ou talvez não…em boa verdade é essa a magia da vida, certo?
Há umas semanas estava eu à procura de imagens das bibliotecas mais incríveis do mundo, quando me deparo com o oposto: uma imagem de um senhor com dois burros e uma tabela que dizia: Biblioburro. Despertou de imediato a minha atenção. Quando seleccionei a imagem no google, aparece-me umas quantas mais relacionadas com o assunto. E, depois, lá fui ler mais sobre esta estória. E fiquei fascinada!
De modo resumido aqui vai: Na Colombia, um senhor chamado Luis Soriano, tinha muitos livros e dois burros o Alfa e o Beto. Com estes recursos e muita força de vontade, criou o Biblioburro, cujo objectivo é ir a aldeias “esquecidas” onde o acesso à informação é escasso. E aí permite o acesso aos livros, e ele próprio lê as histórias neles contidas.
Considero o acto de se ler para alguém, que não o consegue por algum motivo, um acto de amor, a máxima da partilha.
Há já uns meses, vi um filme de ficção científica chamado “Fahrenheit 451”, que retrata uma sociedade do futuro onde os livros são queimados por bombeiros com o objectivo de ajudar as pessoas a serem felizes. Não vou entrar em detalhes, mas o cerne da questão passava por reduzir a quantidade de informação para tornar a vida mais simples e fácil. Dizem que o mote para esta distopia foi o facto de, nós seres humanos, não termos conseguido usar a quantidade de dados que criamos em nosso benefício.
Hoje em dia já é triste o facto de não se ver jornalismo de qualidade como se via antes da loucura das redes sociais. Fast food jornalístico, chamaria eu. Os jornais e revistas foram reduzidos em tamanho, quantidade e em muitos casos em qualidade. Será que o futuro da literatura estará, também, em causa com a democratização da imagem e escrita em prol de quem pode saber o quê primeiro, em detrimento de análise e partilha de uma obra concreta com conteúdo construtivo?
Não sei o que o futuro nos reserva, mas desejo que todos este dados virtuais que estão a ser criados, como alguém diria, “às paletes”, nos ajudem no futuro e não somente aos robots que tanto ansiámos criar à nossa imagem.
A fotografia que me ficou na memória e não consegui tirar foi a melhor da última maratona fotográfica em que participei.
Estávamos a passar de tuc-tuc pelo recinto da Feira da Ladra, enquanto chovia torrencialmente, quando olhei e vi num dos quadrados designados para uma banca uma cadeira castanha envelhecida abandonada com três pilhas de livros em seu redor. Duas delas eram livros de capa dura e cores diferentes, como vermelho e verde escuro, e uma outra parecia banda desenhada. Imaginei logo velhas histórias do tio patinhas, não sei bem porquê… Tive uma vontade enorme de parar no meio daquele trajecto para gravar o momento, mas ao mesmo tempo era como se no meu cérebro o tempo e a velocidade do tuc-tuc estavam quase como que em velocidade lenta, a fazer lembrar uma cena de um filme em slow-motion. Onde a vida corre ao seu ritmo, normal e acelerado, mas eu conseguia ver toda aquela imagem com os mais pequenos detalhes. Quase como se os meus olhos fossem a máquina fotográfica.
Até breve,
Nota: As imagens do Biblioburro presentes neste post, foram retiradas da internet onde não havia referência do ao seu autor.